3 min・23/06/2025・Texto por Redação Power Supply
A Raízen, gigante do setor sucroenergético controlada pela brasileira Cosan e pela anglo-holandesa Shell, segue acelerando sua estratégia de desinvestimentos para reforçar o caixa e reduzir a dívida. A companhia está em negociações avançadas para vender mais quatro usinas de cana-de-açúcar — duas localizadas em São Paulo e duas em Mato Grosso do Sul.
Estão na mira das tratativas as usinas Santa Elisa, em Sertãozinho (SP); Continental, em Colômbia (SP); além das unidades Rio Brilhante e Passatempo, ambas situadas em municípios homônimos em Mato Grosso do Sul. As negociações, segundo fontes do setor, ocorrem com grupos regionais que vislumbram sinergias operacionais ao incorporar os ativos em seus polos produtivos já existentes.
Em jogo está a possibilidade de venda integral das unidades — canaviais e plantas industriais — ou, em alguns casos, apenas das áreas cultivadas. No mercado, a expectativa é que o movimento da Raízen não pare por aqui: mais usinas podem ser colocadas à venda nos próximos meses.
As quatro unidades que agora devem trocar de mãos faziam parte do portfólio da Biosev, antiga divisão de açúcar e bioenergia da Louis Dreyfus Company (LDC), adquirida pela Raízen em 2021 por R$ 3,6 bilhões. O negócio, que envolveu nove usinas no total, acabou se revelando menos vantajoso do que o esperado.
Embora as lavouras da Biosev apresentem boa produtividade agrícola, as unidades industriais herdadas da LDC não se integraram bem ao modelo operacional da Raízen, relataram fontes próximas à companhia. Faltaram sinergias com as usinas originais da empresa, o que acabou tornando a gestão das novas plantas mais complexa e onerosa.
Nos últimos meses, a Raízen já vinha dando sinais claros de que pretendia enxugar seu portfólio. Duas usinas oriundas da Biosev já foram negociadas recentemente: a unidade Leme foi vendida a um consórcio formado pela Usina Ferrari e pela Agromen, enquanto os canaviais da MB foram adquiridos pela cooperativa Alta Mogiana. Essas transações renderam R$ 800 milhões à companhia.
Agora, para os quatro ativos em negociação, a Raízen trabalha com uma avaliação entre US$ 60 e US$ 70 por tonelada de capacidade instalada de cana — um patamar considerado razoável mesmo para negócios que incluam apenas os canaviais. Se as transações forem concluídas na faixa desejada, a empresa poderá levantar cerca de R$ 4,5 bilhões.
Dívida no radar
A venda de ativos faz parte de um plano mais amplo de reestruturação financeira. Com uma dívida líquida de R$ 34 bilhões ao final da safra 2024/25 e uma alavancagem de 3,2 vezes, a Raízen tem pressa para equilibrar as contas. No período, os gastos com juros consumiram R$ 5,7 bilhões, e outros R$ 4,8 bilhões em amortizações estão programados para esta safra.
Além das usinas, a empresa também está de olho em desinvestimentos fora do Brasil. A venda da operação de combustíveis na Argentina está atualmente em negociação, e poderá contribuir para aliviar ainda mais o passivo financeiro.
O movimento é acompanhado de perto pelo mercado. Na semana passada, Rubens Ometto, presidente do conselho da Cosan, confirmou ao Valor Econômico que o processo de reestruturação da Raízen está em curso. O objetivo, segundo ele, é tornar a companhia mais leve e mais eficiente em um cenário de margens apertadas e juros elevados.
Se conseguir executar a venda das usinas nos termos desejados, a Raízen poderá não apenas reduzir seu endividamento, mas também reorientar o foco estratégico para as operações mais rentáveis e integradas de seu portfólio.
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