A pandemia mudou a forma de comprar, de entregar e de consumir no Brasil. É fato. Mas poucos setores passaram por tanta transformação quanto o de alimentos. A união entre a gastronomia, o delivery e a tecnologia criaram o segmento de empresas que hoje é conhecido como foodtech, uma nova e promissora fronteira de oportunidades. Os números provam essa força. Um estudo da consultoria Endeavor, em parceria com a gigante americana PepsiCo, concluiu que a indústria brasileira de alimentos e bebidas representa 10,6% do PIB nacional e conquistou, em menos de três anos, 18 unicórnios. Essas empresas geram mais de 29 mil empregos diretos e levantaram, desde 2011, mais de US$ 1,7 bilhão em capital. As três categorias mais representadas na amostra são Logística e Gestão de Dados (22%), Vendas (17%) e Produtos Orgânicos, Naturais ou Saudáveis (16%). 

O Brasil não está sozinho. O levantamento da Endeavor, com base nos principais mercados da América Latina, identificou os países com maior número de empresas atuando no setor: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México. Com essa amostra, foram identificadas 323 foodtechs em operação. A partir delas, foi possível obter informações sobre 102 startups foodtech por meio de questionário e 20 entrevistas em profundidade com diferentes executivos do ecossistema, incluindo empreendedores, investidores, fundos de investimento (VCs) e aceleradores de inovação. 

Além da digitalização da economia e da pandemia, fatores que deram mais musculatura para todo o supply de alimentos, a busca por hábitos mais saudáveis de vida nutriu novos negócios para empresas do setor. Uma pesquisa da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) e da consultoria Brain mostrou que, em 2021, o número de consumidores orgânicos no país cresceu 63%, em um mercado que movimentou R$ 6,3 bilhões no ano passado, contra R$ 5,8 bilhões em 2020. 

Segundo o diretor-executivo da Organis, Cobi Cruz, a disparada na demanda por esses produtos está associada a uma nova visão de vida dos consumidores durante a pandemia. Ele avalia que a preocupação dos consumidores com questões relacionadas à saúde individual e ao meio ambiente cresceu. “A maior procura por alimentos saudáveis e, consequentemente, por orgânicos, é puxada pela mudança de mentalidade”, disse. 
  
Se por um lado a procura por alimentos saudáveis em casa aquece toda uma cadeia de produção e de suprimentos, por outro ela também turbina o delivery de foodservice. No ano passado, os gastos com delivery somaram R$ 40,5 bilhões no Brasil, 24% acima do que em 2020, segundo dados do Instituto Foodservice Brasil (IFB). O tráfego de visitas em sites e aplicativos foi de 2,2 bilhões, 13% a mais, e o tíquete médio dos consumidores foi de R$ 18,22, 10% a mais que o ano anterior. Para a diretora-executiva do IFB, Ingrid Devisate, a pandemia ajudou a acelerar os negócios, mas não foi o único fator já que o crescimento dos apps de entrega era um movimento que vinha acontecendo no País. “Com cada vez mais tecnologia, o delivery tem ajudado a facilitar a vida de quem consome e, do lado das empresas, contribuído para fortalecer a cadeia da alimentação fora do lar”, disse.