Entre os brasileiros, 94% afirmam adotar hábitos de consumo mais conscientes, com 58% considerando os selos e certificações socioambientais como relevantes. Esses dados são de um estudo de 2024 realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que entrevistou mais de mil consumidores de todas as regiões do país. A pesquisa também revela que a maioria dos participantes associa o consumo responsável a questões ambientais, como a redução da poluição (61%) e o uso responsável dos recursos naturais (58%). Essa tendência acende um alerta para as empresas, que precisam garantir uma comunicação transparente sobre suas práticas, especialmente no que diz respeito às iniciativas ESG – sigla para Ambiental, Social e Governança.

Diante dessa tendência de consumo consciente, o advogado Emanuel Pessoa, especializado em Governança Corporativa, enfatiza a importância da adoção de práticas ESG nas organizações. Contudo, ele observa que o tema requer uma visão mais abrangente, especialmente em relação às formas de aplicação. “Embora a conscientização sobre ESG tenha crescido no mundo dos negócios, sua implementação ainda enfrenta dificuldades, especialmente em empresas de pequeno e médio porte no Brasil”, comenta.

A escassez de profissionais qualificados na área de ESG no Brasil é uma questão preocupante. Um estudo da Future of Jobs reforça esse cenário, apontando que as vagas relacionadas à sustentabilidade devem crescer 33% até 2027, resultando em cerca de 1 milhão de novas oportunidades. No entanto, a capacidade de formação profissional ainda não está acompanhando esse crescimento, dificultando o cumprimento de metas climáticas. Emanuel comenta que muitos não possuem a experiência ou o conhecimento técnico adequados, mas afirmam ter a capacidade necessária, o que pode comprometer a efetividade das práticas sustentáveis. “Aqueles que realmente precisam lidar com o tema, seja para atrair consumidores, captar investimentos, valorizar sua empresa ou contribuir para a sociedade e o meio ambiente, percebem a presença de muitos ‘experts do momento’”, alerta.

Padronização

Outro aspecto crucial na implementação de práticas ESG é a percepção dos líderes sobre a compreensão e o comprometimento da organização com essa cultura. “Há um problema de padronização nos parâmetros e nas terminologias relacionadas a ESG, bem como na análise de resultados. Essa disparidade torna mais difícil distinguir entre a autopromoção corporativa e os fatos realmente relevantes que evidenciam o comprometimento efetivo de uma empresa com práticas ESG”, destaca Emanuel.

Diante desse cenário, torna-se ainda mais importante observar a disseminação, por parte das empresas, de uma imagem verde sem substância real por trás de suas alegações. “Um dos pontos mais sensíveis, especialmente no Brasil, dado o papel que o país desempenha globalmente na área ambiental, é o greenwashing. Essa prática consiste em divulgar informações sobre a adoção ou aplicação de práticas sustentáveis que são falsas ou deturpadas, criando uma impressão enganosa de atuação ambiental”, afirma o advogado.

Ele reforça que a tendência é de que o investimento em práticas ESG efetivas cresça, impulsionado pela pressão cada vez maior do mercado e dos stakeholders. “O mercado consumidor está cada vez mais exigente e competitivo, e essa diferença pode ser crucial entre uma empresa que prospera e outra que enfrenta dificuldades”, conclui.